IN: VICHI, Leonardo. De Asher ben Turiel a AgimetUma análise dos sentimentos em relação aos judeus durante a Peste Negra sob a perspectiva de duas vítimas. Rio de Janeiro: Revista do NIEJ, 2014. Ano 5. N. 8 pp. 42-51.
Toledo, Espanha. Ano 1349
O reduzido número de presentes àquela cerimônia fúnebre quase não mais se recordava dos festejos que testemunhara na noite anterior. A festa de núpcias fora alegre e jubilosa, repleta de risos e esperanças, mas, agora, dera lugar ao pranto. Jose ben Turiel aguardara com muita ansiedade pelo momento em que veria seu amado filho, já com 15 anos, constituindo sua própria família; à noiva também muitos sonhos, planos e promessas de amor não faltaram. Filho de uma família estritamente observante, Asher dedicara-se cedo e avidamente ao estudo das escrituras. Sob a tutela do pai, debruçara-se sobre a Mishná e a Guemará. Desde cedo não faltavam epítetos que homenageassem aquele rapaz: perfeito no saber, apesar de jovem na idade dizia-se que parecia ter 80 anos em conhecimento, além de ser um admirável e agradável amigo. Agora, Asher ben Turiel jazia debaixo da fria pedra, datada no mês Tammuz de 5109, que marcava o lugar onde fora sepultado. Asher ben Turiel fora vitimado pela peste, e a lápide, única evidência de sua existência, testemunharia:
“Esta pedra é uma lembrança para que uma geração vindoura possa saber…”